Do cais ao porto:
A racialização intrínseca ao desenvolvimento e as práticas de ordenação e de higienização do Projeto Porto Maravilha
Resumo
Este artigo tem como objetivo explorar a maneira como a “raça” é reproduzida nos interstícios do desenvolvimento a partir da identificação de práticas cotidianas que têm legitimado as operações de poder para hierarquizar e depreciar grupos, sociedades e nações racializadas. O Projeto Porto Maravilha foi escolhido como contexto específico de análise, a fim de localizar determinadas práticas de racialização reproduzidas. Em nível metodológico, adotou-se uma postura analítica que recentralizou a ideia de raça para investigar os processos típicos do desenvolvimento. A análise explorou, primeiro, a construção racializada e intrínseca à produção e à acumulação do capital em uma perspectiva histórica mais ampla e outra focada na zona portuária carioca. Em seguida, localizou-se a constituição e a reprodução de práticas de racialização no contexto do Projeto Porto Maravilha. Concluiu-se que o desenvolvimento não é acidentalmente racializado, mas o faz de forma historicamente pragmática e que o Projeto Porto Maravilha produziu a desumanização e o combate da vida pública autônoma da população local, negra e pobre, e promoveu o apagamento e o aniquilamento dos modos de vida tradicionais e culturais e da memória e história de grupos marginalizados através de práticas de ordenação e de higienização.
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