A economia política do corpo das mulheres amazônicas
Palavras-chave:
prostituição, corpo-território, Amazônia brasileira, economia informa;Resumo
Este artigo investiga a integração histórica da prostituição feminina à
economia amazônica entre 1850 e 1929, fase em que a região transita de
um modelo de extrativismo colonial para a inserção subordinada no mercado
interno brasileiro, marcada pelo ciclo da borracha e pela belle époque
manauara. Partindo do conceito de corpo-território, analisamos como
a articulação entre espaço e corpo organiza hierarquias racializadas e
generificadas, definindo estratégias de sobrevivência e mecanismos de
poder. A pesquisa apoia-se em revisão crítica de literatura e fontes históricas,
dialogando com geografia crítica, economia política e feminismos
decoloniais. Mostramos que a exploração de recursos naturais não
só determinou a demografia regional, mas também fez da prostituição
um componente orgânico dos modos locais de acumulação. Longe de
ser marginal, essa atividade tornou-se via central de renda para corpos
feminizados excluídos dos setores formais, revelando uma hierarquia racial
que colocava mulheres brancas — especialmente estrangeiras — nas
camadas superiores, tanto do mercado formal quanto do mercado sexual
informal, enquanto mulheres não brancas, amazônicas ou migrantes,
ocupavam posições mais vulneráveis, funcionando como espaço simultâneo
de precarização e agência.
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