A economia política do corpo das mulheres amazônicas

Autores

Palavras-chave:

prostituição, corpo-território, Amazônia brasileira, economia informa;

Resumo

Este artigo investiga a integração histórica da prostituição feminina à
economia amazônica entre 1850 e 1929, fase em que a região transita de
um modelo de extrativismo colonial para a inserção subordinada no mercado
interno brasileiro, marcada pelo ciclo da borracha e pela belle époque
manauara. Partindo do conceito de corpo-território, analisamos como
a articulação entre espaço e corpo organiza hierarquias racializadas e
generificadas, definindo estratégias de sobrevivência e mecanismos de
poder. A pesquisa apoia-se em revisão crítica de literatura e fontes históricas,
dialogando com geografia crítica, economia política e feminismos
decoloniais. Mostramos que a exploração de recursos naturais não
só determinou a demografia regional, mas também fez da prostituição
um componente orgânico dos modos locais de acumulação. Longe de
ser marginal, essa atividade tornou-se via central de renda para corpos
feminizados excluídos dos setores formais, revelando uma hierarquia racial
que colocava mulheres brancas — especialmente estrangeiras — nas
camadas superiores, tanto do mercado formal quanto do mercado sexual
informal, enquanto mulheres não brancas, amazônicas ou migrantes,
ocupavam posições mais vulneráveis, funcionando como espaço simultâneo
de precarização e agência.

Biografia do Autor

Isabelle Neri, Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado/Pesquisadora

Formada em Relações Internacionais pela Fundação Escola Comércio Álvares Penteado (FECAP). Bolsista Pró-ciência pela mesma. Integrou uma pesquisa em parceria com o Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da USP (NUPP). Atualmente Estuda Análise de Dados na Escola Britânica de Artes Criativas e Tecnologia (EBAC) e integra o Grupo de Estudos CNPq “A Vida das Ideias: Sociedade, Democracia e Direitos Humanos”

Daniel Pereira da Silva, UNICAMP/Pós-doutorando e FECAP/Professor

Pós-doutorando do Instituto de Economia da UNICAMP. Professor dos cursos de Ciências Econômicas e de Relações Internacionais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, FECAP. Doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (2019). Possui Mestrado em Economia (2015) pelo Instituto de Economia da Unicamp e Graduação em Ciências Econômicas (2010) pela mesma instituição. É coordenador do Grupo de Trabalho "Economia Política das Relações Raciais" da Sociedade Brasileira de Economia Política. Integrante dos Grupos de Estudos CNPq "A Vida das Ideias: Sociedade, Democracia e Direitos Humanos" e "Neoliberalismo e Extinção: Diagnósticos e alternativas para uma Economia Substantiva"; além do Grupo de Trabalho "Psicanálise, raça e decolonização" da Rede Interamericana de Pesquisa em Psicanálise e Política.

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Publicado

05.09.2025