As veias abertas do Pampa e a extinção do gaúcho:
a sojificação do Pampa e suas consequências para o modo de vida no bioma
DOI:
https://doi.org/10.69585/2595-6892.2025.1223Resumo
A partir de uma perspectiva lukacsiana, este trabalho relaciona a extinção
iminente do gaúcho ao processo de sojificação do pampa brasileiro.
Entende-se que o gaúcho, como complexo parcial do ser social, só pôde
surgir a partir das qualidades orgânico-materiais exclusivas do bioma
Pampa. Esse bioma, contudo, a partir da expansão de 170% da área plantada
de soja nas últimas duas décadas, corre riscos de arenização. Não
obstante, o processo em curso já é suficiente para alterar a paisagem
do pampa e o processo de trabalho das populações humanas no bioma.
Conclui-se que a sojificação do pampa submete o bioma e sua população
humana ao ato de reproduzir a soja.
Referências
ACOSTA, A. Extrativismo e neoextrativismo: duas faces de uma mesma maldição. In Gilger et al.
(eds.), Descolonizar o imaginário: debates sobre pós-extrativismo e alternativas ao desenvolvimento.
São Paulo: Elefante, 2016.
AIZEN, M. A. & HARDER, L. D. The global stock of domesticated honeybees is growing slower than
agricultural demand for pollination. Curr. Biol. 19, 915–918, 2009.
ANDRADE, Bianca O. et al. 12,500+ and counting: biodiversity of the Brazilian Pampa. Frontiers of
Biogeography: 15, 2, 2023.
ANDRADE, Mariana. Ontologia, Dever e Valor em Lukács. Maceió: Coletivo Veredas, p. 176, 2016.
BALEM, Tatiana A.; ALVES, Ethyene O. A persistência das feiras de agricultores familiares em um
cenário de “sojificação da sociedade”: elementos da realidade de Júlio de Castilhos e Tupanciretã/
RS. Economia e Desenvolvimento, Santa Maria, v. 32, n. 2, p. 1-12, 2020.
BARAIBAR, M.; DEUTSCH, L. The soybean through world history:lessons for sustainable agrofood systems. Nova York: Taylor & Francis, 2023.
BARBOSA, M. Z.; NOGUEIRA JÚNIOR. (As) Simetrias entre as agroindústrias da soja no Brasil e
na Argentina. Revista de Economia Agrícola, São Paulo, v. 54, n. 1, p. 87-107, 2007.
BEHLING, H. Late quaternary vegetational and climatic changes in Brazil. Rev. Palaeob. Palynol.
,143-156, 1998.
BEHLING, H. Late Quaternary grassland (Campos), gallery forest, fire and climate dynamics, studied
by pollen, charcoal and multivariate analysis of the São Francisco de Assis core in western Rio
Grande do Sul (southern Brazil). Rev. Palaeob. Palynol., 133, 235-248, 2005.
BEHLING, H.; PILLAR, V.P. Late quaternary vegetation, biodiversity and fire dynamics on the
southern Brazilian highland and their implication for conservation and management of modern
Araucaria forest and grassland ecosystems. Phil. Trans. R. Soc. B, 362, 243-251, 2007.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Mapa de Cobertura Vegetal – Pampa, s.d. Disponível em: https://
antigo.mma.gov.br/biomas/Pampa/mapa-de-cobertura-vegetal.html. Acesso em: 27 de dezembro de
BREDENKAMP, G.J.; SPADA, F.; KAZMIERCZAK, E. On the origin of northern and southern
hemisphere grasslands. Plant Ecol, 163, 209-229, 2002.
CANEPPELE, J. C. G. Espacialização da arenização a partir da Ecodinâmica e da Cartografia Ambiental.
Dissertação (Mestrado em Geografia). Posgea/IG/UFRGS, Porto Alegre, 2007.
CARVALHO, P.C.F; BATELLO, C. Access to land, livestock production and ecosystem conservation
in the Brazilian Campos biome: the natural grasslands dilemma. Livest. Sci. 120, 158-162, 2009.
CHESNAIS, F. A finança mundializada: raízes sociais e políticas, configuração, consequências. Tradução:
Rosa Maria Marques e Paulo Nakatani. São Paulo: Boitempo, 2005.
CHESNAIS, F. Finance Capital Today: Corporations and Banks in the Lasting Global Slump. Boston:
Brill Academic Pub, 2016.
DA SILVA, Ana Paula. Soja transgênica: informação política e econômica em detrimento da científica.
Anais do XLII Congresso Nacional de Economia e Sociologia Rural Cuiabá, 2004.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Ebook. Tradução: Sérgio Faraco. Porto
Alegre: LP&M, 2010.
GASS, S. L. B. Zoneamento ambiental como subsídio para a definição das Áreas de Proteção Ambiental.
Tese (Doutorado em Geografia). Posgea/IG/UFRGS, Porto Alegre, 2015.
GOULSON, D., NICHOLLS, E., BOTÍAS, C. & ROTHERAY, E. L. Bee declines driven by combined
stress from parasites, pesticides, and lack of flowers. Science 347, 2015.
GUDYNAS, E. Derechos de la naturaleza: Ética biocéntrica y políticas. Buenos Aires: Tinta
Limón, 2015.
HOLDEN, C. Report warns of looming pollination crisis in North America. Science 314-397, 2006.
JEZIORNY, D. L. Territorialidade e indicação geográfica: estudo dos territórios do Vale dos Vinhedos
(BRA) e Montilla-Moriles (ESP). Tese (Doutorado em Ciências Sociais Aplicadas) - Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2015.
LEAL, O. F. Os gaúchos: cultura e identidade masculinas no Pampa. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2021.
LEITE, P.F.; KLEIN, R.M. Vegetação. In IBGE. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Geografia do Brasil: Região Sul. Rio de Janeiro: IBGE, p.113-150, 1990.
LUKÁCS, Gyorgy. A Ontologia do Ser Social. Volume 14. Tradução: Sérgio Lessa. Maceió: Coletivo
Veredas, 2018.
MARX, K. O Capital. Tomo I. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013
MARX, K. Grundrisse. Ebook. Tradução: Mario Duayer. São Paulo: Boitempo, 2011
MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. Tradução: Luciano Cavini Martorano, Nélio Schneider,
Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2007
OSÓRIO, Jaime. Padrão de reprodução do capital: uma proposta teórica. In: FERREIA, Carla;
OSÓRIO, Jaime; LUCE, Mathias. Padrão de reprodução do capital. São Paulo: Boitempo, 2012.
OVERBECK, G.E.; MÜLLER, S.C.; PILLAR, V.D.; PFADENHAUER, J. Floristic composition,
environmental variation and species distribution patterns in burned grassland in southern Brazil.
Braz. J. Biol., 66, 1073-1090, 2006.
OVERBECK, G.E. et al. Brazil’s neglected biome: the South Brazilian Campos. Perspect. Plant Ecol. Evol.
Syst., 9, 101-116, 2007.
PILLAR, V.P.; MÜLLER, S.C.; CASTILHOS, Z.M.S.; JACQUES, A.V.A. (eds). Campos Sulinos: Conservação
e Uso Sustentável da Biodiversidade. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. p. 13-25. 2009.
RECH, L. T.; JEZIORNY, D. L. The State, Political Power, and the Financialization of Agrarian Space in
Brazil. Latin American Perspectives, 51(1), 270-291, 2024.
ROESCH, L.F.W. et al. The Brazilian Pampa: A Fragile Biome. Diversity, 1, 182-198, 2009.
ROSSATO, M. S. Os climas do Rio Grande do Sul: variabilidade, tendências e tipologias. Tese (Doutorado
em Geografia). Posgea/IG/UFRGS, Porto Alegre, 2011.
SOUTO, J.J. Deserto, uma ameaça? Secretaria da Agricultura: Porto Alegre, 1984
STEFENON, V.M.; BEHLING, H.; GAILING, O.; FINKELDEY, R. Evidences of delayed size recovery in
Araucaria angustifolia populations after post-glacial colonization of highlands in Southeastern Brazil.
An. Acad. Bras. Ciênc, 80, 433-443, 2008.
STRECK, E.V. et al. Solos do Rio Grande do Sul, 2nd ed.; EMATER/RS-ASCAR: Porto Alegre, Brasil, 2008.
SUERTEGARAY, D. M. A. Arenização: análise morfogenética. In: SUERTEGARAY, D. M. A.; SILVA, L. A.
P.; GUASSELLI, L. A. (Orgs.). Arenização: natureza socializada. Porto Alegre: Compasso Lugar-Cultura/
Imprensa Livre, 2012.
SUERTEGARAY, D. M. A. Deserto grande do sul: controvérsias. 2ª ed. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 1998.
SUERTEGARAY, D.M.A. Natureza, produção e sustentabilidade: e o Rio Grande do Sul descobre
seus desertos. Boletim Gaúcho de Geografia, 11, 33-52, 1995.
VERDUM, R. Descoberta permanente: das areias aos areais. In: SUERTEGARAY, D. M. A.; SILVA, L. A.
P.; GUASSELLI, L. A. (Orgs.). Arenização: natureza socializada. Porto Alegre: Compasso Lugar-Cultura/
Imprensa Livre, v. 1, p. 73-83, 2012.
VELOSO, H.P.; GÓES-FILHO, L. Fitogeografia Brasileira. Classificação Fisionômico-Ecológica da
Vegetação. Bol. Téc. Projeto RADAMBRASIL. Sér. Vegetação n. 1, Salvador, 1982.
VIEIRA, E. F. & RANGEL, S.S. Geografia econômica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Saga
Luzatto, 1993.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.



