A contradição fundamental da sociedade capitalista no livro primeiro de O capital:

determinações gerais e consequências

Autores

  • Paulo Henrique Furtado de Araujo UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Resumo

O artigo tem por objetivo demonstrar, utilizando contribuições de Postone
e Lukács, que, para Marx, a categoria mercadoria é estruturante da sociedade
do capital e que por ser constituída pelo par antitético valor de uso
e valor engendra a contradição fundamental da sociedade do capital. O
trabalho abstrato é a substância do valor e sua quantificação é feita pelo
tempo. Deste modo, a partir da dinâmica contraditória da produção de
valor e valor de uso aciona-se a contradição entre o tempo histórico (concreto)
e o tempo abstrato, específico da sociedade do capital. A contradição
constitutiva da mercadoria é uma contradição real que produz o deslocamento
para seu exterior da própria contradição. De tal maneira que,
na primeira forma em que se apresenta o valor de troca (forma simples,
singular ou acidental do valor), a contradição se exterioriza e se apresenta
como antítese externa envolvendo duas mercadorias distintas. Enquanto
contradição real não há suprassunção, ocorrendo o deslocamento permanente
da contradição fundamental pelas várias formas do valor de troca
até a forma dinheiro, da forma dinheiro para o dinheiro enquanto capital
e, intensificando ontologicamente a exposição e o conjunto categorial,
Marx apresenta as várias contradições que se manifestam na acumulação
capitalista e que têm na forma mercadoria a sua chave explicativa.

Biografia do Autor

Paulo Henrique Furtado de Araujo, UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Professor Adjunto da Faculdade de Economia. Membro do NIEP-MARX-UFF

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Publicado

05.12.2022