Estado dependente, superexploração da força de trabalho e sobredominação política

Autores

  • Davisson Charles Cangussu de Souza Unifesp
  • Renata Falavina Cardoso de Oliveira
  • João Guilherme Alvares de Farias
  • Alex Viana Ramos Monte

DOI:

https://doi.org/10.69585/2595-6892.2024.1066

Palavras-chave:

Teoria marxista da dependência (TMD), Estado dependente, superexploração da força de trabalho, sobredominação política, superopressão de raça, classe e região

Resumo

O objetivo deste texto é avançar na reflexão sobre as determinações da dependência política nas formações dependentes, debate que, segundo nosso entendimento, tem recebido um tratamento secundário pelos estudos inspirados na Teoria Marxista da Dependência (TMD). Sem a pretensão
de suprir essa lacuna, dedicamo-nos a uma questão específica que pensamos ser um ponto de partida para avançar nessa questão: a relação entre o binômio transferência de valor e superexploração da força de trabalho e o Estado dependente. A análise aqui empreendida nos levou a concluir que a reprodução ampliada das relações de dependência é permeada não só pela subordinação das decisões políticas dos Estados dependentes aos interesses das classes dominantes das formações imperialistas
(denominada por teóricos da TMD de subsoberania), mas também pela exacerbação dos mecanismos internos da dominação de classe no interior das formações dependentes, fenômeno que denominamos de sobredominação política. Desse modo, ao binômio transferência de valor e
superexploração da força de trabalho, no plano econômico, corresponderia o binômio subsoberania e sobredominação, no plano das relações políticas. Concluímos ainda que ambos os fenômenos têm a sua existência assegurada, e são potencializados por outro não menos crucial, a superopressão,
ou seja, a exacerbação da estigmatização de certos grupos sociais, a partir de clivagens de raça, gênero e região, que, por sua vez, seriam os alvos privilegiados da superexploração e da sobredominação de classe.

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Publicado

31.07.2024